quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Carlos Drummond de Andrade - Poema da Necessidade - 3/28

O poema da necessidade trata da agonia do poeta em relação aos sentimentos do mundo e a um conceito coletivo da maneira que se deve senti-los.
O poeta usa seu poema como bloco de tarefas, como se cada transcrição fosse um jeito de se convencer sobre o que ainda falta. Nota-se uma certa agonia quanto ao que se tem pra fazer e vê-se que cada necessidade faz parte de uma conceituação coletiva, como se todas as pessoas tivessem que acreditar e odiar seguindo um padrão. Ratifica-se este pensamento com conceitos coletivos de cada época. O poeta diz que é preciso aprender 'volapuque',  língua mundial criada por um padre que acreditou ter um sonho no qual Deus lhe mandava criar uma língua universal, diz que deve-se ler Baudelaire, escritor e precursor do Simbolismo e conhecido como fundador da tradição moderna de poesia além de dizer que é preciso odiar Melquíades, papa cristão perseguido com seus seguidores pelo Imperador Máximo até a vitória de Constantino e a elaboração do Edito de Milão. Para o poeta a vida é incompleta e só, talvez, anunciando o fim do mundo é que se acaba o que se tem para fazer.
O poema é marcado pela constante utilização de anáfora que consiste na repetição de palavras ou frase no início de versos.


Poema da Necessidade

É preciso casar joão,
é preciso suportar antônio,
é preciso odiar melquíades,
é preciso substituir nós todos.


É preciso salvar o país,
é preciso crer em deus,
é preciso pagar as dívidas,
é preciso comprar um rádio,
é preciso esquecer fulana.


É preciso estudar volapuque,
é preciso estar sempre bêbedo,
é preciso ler baudelaire,
é preciso colher as flores
de que rezam velhos autores.


É preciso viver com os homens,
é preciso não assassiná-los,
é preciso ter mãos pálidas
e anunciar o FIM DO MUNDO.

2 comentários:

  1. Gostei tanto que postei no meu blog (com a devida referência).
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