terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Carlos Drummond de Andrade - Sentimento do Mundo - 1/28

Análise do primeiro poema da obra de Carlos Drummond de Andrade selecionada para o vestibular da FUVEST 2013, Sentimento do Mundo, com o primeiro poema homônimo. Seguido pelo poema na íntegra.




Ao compor o primeiro poema, que trará nome à sua obra, Drummond demonstra não só suas limitações quanto a retratação do sentimento do mundo, mas também sua tendência negativa ao julgar o futuro. Logo na primeira estrofe o eu-lírico diz possuir algumas restrições para descrever o sentimento do mundo "tenho apenas  duas mãos e o sentimento do mundo", porém afirma ter alguns artefatos para fazê-lo "mas estou cheio de escravos, minhas lembranças escorrem e o corpo transige na confluência do amor". O poeta prossegue, pessimista, dizendo que quando se levantar irá se deparar com mortes dentre as quais a do próprio poeta. E continua pedindo desculpas por sentir-se perdido quanto a decifração da existência, adicionando o fato de que seus amigos não o alertaram quanto as dificuldades que teria. Drummond termina seu poema esperando do futuro concessões negativas, e lembrando de pessoas que se foram nas batalhas da humanidade.
Vale ressaltar que "Sentimento do Mundo"  foi publicado pela primeira vez em 1940, e que os olhares de seus poemas foram feitos entre 1935 e 1940. O Período entre Guerras, a Ditadura do Estado Novo e o Nazi-fascismo claramente assolam o poeta e a dor de todos os homens se concentra em um só: no mesmo.
Sentimento do Mundo
Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.


Quando me levantar, o céu
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.


Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.


Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microscopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer


esse amanhecer
mais noite que a noite.

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